segunda-feira, 14 de janeiro de 2013

Trabalho não é brincadeira...


"A palavra progresso não terá qualquer sentido enquanto 
houver crianças infelizes." Albert Einstein


Passei os últimos três dias na fazenda de um casal de amigos. Natureza, frutas frescas, comida saborosa, banho de rio, pescaria, cavalgada, cheiro de mato, amigos reunidos  e muita cantoria sob o céu estrelado. O acontecimento mais importante foi, ontem, quando decidi dar uma volta com o cavalo.  Passando por uma estrada de piçarra, avistei um menino seguindo na mesma direção.  Ele estava sozinho, carregava uma enxada e um saco. Fiquei incomodada por ver um menino tão pequeno andando sozinho. Apressei os passos do cavalo e cheguei mais perto. No saco, era possível ver uma garrafa (pet), uma vasilha, prato, colher e copo. Ele me olhou, de lado, meio desconfiado. Desci do cavalo e iniciei uma conversa. Seguimos caminhando. Em poucos minutos, percebi, através de sua expressão, uma vida nada fácil. Ele se chama Edson, tem 9 anos, o pai é agricultor, tem 3 irmãos mais velhos, a mãe cuida da casa, mas está doente. O problema maior é que ele não foi à escola em 2012, porque estava trabalhando, na roça, com seu pai. Uma criança de pouca infância. Um menino homem,  cheio de responsabilidades... e sonhos. Sim, falamos sobre sonhos. “Meu sonho é ter um cavalo branco e uma casa com parede de tijolo”. Não sei dizer se o meu passeio terminou nesse momento ou passou a ter sentido a partir dele. Sorte minha, ter passado por aquele lugar.

Pensando no Edson, fico imaginando... Quantos, como ele, existem por aí? Muitos. O trabalho infantil é um grave problema social.  É uma causa significativa do abandono escolar. Segundo pesquisas do IBGE, houve uma redução no número de crianças que trabalham. Mas, ainda há muitas crianças, Brasil afora, substituindo lápis, cadernos, livros, brincadeiras... por enxadas, trabalho urbano... São obrigadas pelos pais, pela pobreza, por terceiros... E, até mesmo, por uma questão cultural. Para muitas famílias, o trabalho agrega valores e pode ajudar no desenvolvimento da criança, do adolescente. Está tudo errado. Lembrando que, ás vezes, o trabalho é forçado e acompanhado de agressões. Isso não agrega nada, além  de traumas. Nesse caso, gera lucro para quem explora e pobreza para o explorado. Sendo, assim, caracterizado como trabalho escravo. Trabalho escravo, outro problema sério. Conheço bem essas duas realidades, porque sou uma eterna incomodada.

O Maranhão é o 4º colocado no ranking nacional da exploração do trabalho infantil. O maior índice é na zona rural. Acredito que, se o número de crianças trabalhando, ainda é muito alto e a redução acontece lentamente, o problema pode estar na execução do programa de erradicação. É preciso focar mais nas famílias. Entender. Convencer. Ajudar. Não queremos resultados "mais ou menos". Não queremos políticas públicas "boazinhas". Queremos mais resultados positivos. Queremos gente comprometida,  gente que faça acontecer, gente que tenha "peito" para alargar os horizontes e enfrentar os senhores do movimento: “Isso nunca mudará”. Não é fácil, mas é possível viver outra realidade. Eu acredito.

Precisamos preparar os adultos do futuro. O primeiro passo, é deixar que as crianças sejam o que devem ser: crianças.  O estatuto é lindo, e pode ser muito mais, se for cumprido.

Quanto ao Edson, tenho absoluta certeza, nos encontraremos outras vezes...

7 comentários:

  1. Belo texto, Janne. Sensível observação cotidiana em um momento de descanso. Bem escrito. Repassei aos amigos pelas redes sociais. O que tem qualidade e é belo deve-se aplaudir e ser repassado...
    Feliz 2013, Cristiana

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  2. Tenho orgulho de você, Janne. Você consegue colocar a indignação de todos num simples texto. Acho que os senhores do movimento que você citou são os políticos desinteressados e o funcionalismo público de um modo geral. Essas pessoas precisam de renovação ou o governo apelar para serviços privados.
    Lugar de criança é na escola, aprendendo. Como você disse, é preciso deixar as criança serem crianças. Assim teremos adultos melhores.
    Sugestão: Escreve algo sobre o trabalho escravo.
    Bjinhos, amiga linda...

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  3. Seu final de semana foi animado. Aline me falou que você ordenhou. Você é danada, menina kkkkkk.
    Brincadeira á parte, o que me deixa esperançoso é ver que há gente nova na política e com muita vontade de mudar esse e outros quadros da realidade em que vivemos.
    Há algo que eu possa fazer para ajudar o Edson? Estou em Curitiba, mas você sabe que pode contar comigo. Bjo, meu anjo.

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  4. Boa Tarde Janne! Só agora li seu texto, gosto muito da maneira que aborda os temas e na sinceridade de suas palavras. O que mais vejo por aí são pessoas que escrevem bem, bonito mas não agem de acordo com o que falam. Sei que você não vai parar na indignação. Bonito a atitude do Marcos Vinicius que manifestou o interesse para ajudar o Edson é de gente como vcs que precisamos.
    Dos políticos? Esses o que temos, discursos bem escritos, promessas e nenhuma atitude. Acho patético algumas votações que vejo por aí. A comissão da verdade se preocupando com que aconteceu no passado e esquecendo da verdade vomo a do Edson que acontece nos dias de hoje. É bem verdade que para os políticos não interessa educação na verdade eles querem mesmo são pessoas desprovidas de inteligência para continuar nessa pouca vergonha que acontece no congresso hoje.
    Mas eu ainda tenho esperança que esta realidade mude e que crianças como Edson tenho o que de fato é direito deles, infância
    Bom por hora eu sigo minha vida, ajudando como posso sem esperar da política.

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  5. Amiga, seu texto me remeteu à dura realidade de algumas crianças que conheço. Minha irmã é espírita e faz um belo trabalho com crianças carentes. Muitas trabalham. Algumas são arrimo de família, sustentando pai bêbado, mãe omissa. E é difícil mudar essa realidade, porque quando se tenta com mais afinco, eles se afastam. Ou são afastados. Aqui na cidade não existe, que eu saiba, nenhum grupo, seja público ou privado que se oponha a isso com alternativas, ações efetivas. Infelizmente essas crianças são invisíveis para a maioria.

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  7. Causa repugnação amiga, lembrar do que é desviado em verbas que poderiam esta realidade mudar, dos móveis e materiais jogados em terrenos baldios, enquanto em alguns lugares, as crianças sentam ao sol e no chão, dos professores que pouco recebem, e com desculpas esfarrapadas aqui ou acolá, que nos colocam como verdadeiros expectadores desta crueza dos que podem e nada fazem. Aos Pais muitas são as causas que os levam à colocar seus filhos para trabalhar tão cedo, cada caso é uma realidade que há de se ver com calma, mas que não se justifica com agressões e escravidão. Temos que ter esperança, pois só ela pode nos mover a mudar o que podemos, bem perto de nós exitem Edsons, Marias, Paulos e Anas, e muitos mais que clamam por uma conversa assim, entre amigos, como a sua amiga!! beijos.

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